Nômades digitais: uma nova opção de vida

Virgínia Bastos Carneiro (*)

Que toda crise traz inovações é consenso, ponto pacífico. Mas convenhamos que, com a pandemia gerada pela Covid-19, tivemos inúmeras modificações em quase todos os setores da vida (para não dizer em todos), no mundo todo e, ainda por cima, ao mesmo tempo.

No trabalho, passamos do presencial para o home office num piscar de olhos, do dia para a noite. O costume diário de sair de casa, se arrumar e enfrentar trânsito para ir ao trabalho acabou. Hoje saímos da cama (ou nem isso) para ligar o computador e já começamos a trabalhar ou estudar. Pois essa é a mesma perspectiva dos estudos à distância, com aulas, atividades e avaliações online, realidade há algumas décadas.  Talvez até já estivéssemos vivendo um ensaio de nomadismo digital por conta da tal modernidade líquida admitida pela ascensão de parâmetros tecnológicos (entre outros aspectos).

Entretanto, na urgência pandêmica, o ensaio de nomadismo digital virou imposição. Com a tecnologia digital temos outras formas de viver, trabalhar e estudar. Precisamos mais do que computador e conexão com a internet para sermos nômades digitais? Sejam alunos, empresários, professores ou profissionais liberais, certo é que o momento nos apresenta um inusitado estilo de conviver, uma opção de vida nômade. Romper com o tradicional modelo de trabalhar ou de estudar configurou uma migração para cantos mais calmos (ou mais agitados), lugares mais abertos, menos estressantes, estimulantes para a criatividade ou para uma jornada de trabalho e estudo produtiva. Significou um descomprometimento com a mobilidade diária.

Esse cenário é bem diferente, por exemplo, da era fordista de pouco mais de um século atrás quando o trabalho pesado e enraizado ao maquinário era ausente de criatividade, rígido e sedentário. A formação pessoal e os estudos beiravam a raridade, eram poucas escolas, rígidas e formais com castigos físicos severos e dominação psicológica. Na modernidade de hoje, em resumo, ser nômade digital possibilita a escolha do local de trabalho e estudo, o que leva a não ter um local fixo para morar, também permite experimentar novas culturas e a riqueza de conhecer pessoas de vários lugares, e isso ao mesmo tempo em que, sempre conectado, há uma maleabilidade na rotina que pressupõe alternativas. Ou seja, liberdade nos horários em que deveres e tarefas diárias são realizadas porque, ao contrário de uma imposição,  há uma opção.

A posição para o nomadismo digital é de que, uma vez conectados na internet, podemos atuar de onde bem entendermos. Desde que a performance profissional permaneça a mesma (em alguns casos até melhora) e que possamos manter o comprometimento e a responsabilidade com a qualidade dos nossos trabalhos. Não importa se estamos na mesma localidade em que nossa empresa ou faculdade, nas nossas casas ou de nossos amigos e familiares, nesta ou naquela cidade, no sítio ou na praia, no nosso país ou em qualquer lugar do mundo. Na prática, essa nova de opção de vida é um bom legado do momento pandêmico para nossa liberdade individual de escolha.

(*) Virgínia Bastos Carneiro é professora da Escola de Gestão, Negócios e Comunicação do Centro Universitário Educacional UNINTER

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