Ana Luiza de Melo Rodrigues (*)
O mês de setembro, além da cor amarela que representa a campanha de prevenção ao suicídio, também é estampado por outra cor um pouco menos conhecida: o verde. O “setembro verde” tem como objetivo estimular a doação de medula óssea que pode auxiliar no tratamento de cerca de 80 doenças – em diferentes estágios – como leucemia, linfoma, síndromes de imunodeficiência congênita, entre outras.
Atualmente, o Brasil é o terceiro maior banco de doadores de medula óssea no mundo, com mais de 5 milhões de doadores cadastrados. Parece ótimo e realmente é. No entanto, ainda não é o suficiente. A chance de um irmão de mesmo pai e mesma mãe ser 100% compatível (o chamado doador ideal) é de 1 em cada 4 e a diminuição do número de filhos nas famílias brasileiras tornou essa opção ainda mais rara. Então para 75% dos pacientes é necessário ir em busca de um doador alternativo que pode surgir a partir de registros de doadores voluntários e de bancos públicos de sangue de cordão umbilical.
Neste cenário, a probabilidade de encontrar um doador compatível é de 1 para cem mil. Porém, por conta da alta diversidade genética da população brasileira, as chances diminuem em até 10 vezes para alguns pacientes. Há ainda a possibilidade de realizar o transplante com familiares parcialmente compatíveis (haploidênticos).
Além disso, por conta da pandemia causada pela COVID-19, o Redome (Registro Nacional de Doadores de Medula Óssea) registrou uma queda de 30% nos números de transplantes. Hoje, só o Redome conta com a média de 850 pacientes em busca de um doador não aparentado. Nesse sentido, não é preciso ser bom em matemática para perceber que a conta não fecha. É preciso
Para se tornar um doador de medula óssea, basta visitar o hemocentro mais próximo da sua região que realize cadastro no Redome. Nele é só solicitar mais explicações sobre o cadastro e a doação de medula óssea. O doador deve possuir de 18 a 35 anos na data do cadastro, ser saudável, não possuir câncer, doença infecciosa transmissível pelo sangue, hematológica ou autoimune. Além de levar um documento de identidade original, no momento do cadastro é necessário retirar uma pequena amostra de sangue para avaliar a compatibilidade com os pacientes cadastrados.
Feito isso é só aguardar. Caso seja identificada a compatibilidade para um transplante você será notificado e, a partir daí, será programado o procedimento. O nome ficará no cadastro e o contato poderá ocorrer até a idade máxima definida para a doação: 60 anos. Além disso, o mesmo doador pode doar mais de uma vez devido à renovação celular que ocorre de 21 a 30 dias. O doador que recebe o contato de compatibilidade, se ainda tiver a intenção de seguir, fará um check up e será selecionado se tiver boas condições de saúde, ou seja, sem contraindicações à realização dos procedimentos.
Então salve vidas tornando-se um doador! Você estará beneficiando diversos pacientes que serão tratados, ou mesmo curados, com o transplante de medula óssea.
(*) Ana Luiza de Melo Rodrigues (LinkedIn) é médica cooperada da Unimed Curitiba especialista em onco-pediatria e transplante de medula óssea e mestre em Biotecnologia Aplicada a Saúde da Criança e do Adolescente. É também vice-presidente e chefe do Serviço de Hemato/Oncologia Infantil do Grupo Brasileiro de Transplante de Medula Óssea Pediátrico da Sociedade Brasileira de Transplante de Medula Óssea (SBTMO) e médica responsável adjunta pelo Serviço de Transplante de Medula Óssea Infantil (STMO). E ainda é preceptora da residência médica do serviço de Hemato/Oncologia Pediátrica do Hospital Erastinho (Hospital Erasto Gaertner) e médica do serviço de Oncologia Pediátrica do Hospital Infantil Pequeno Príncipe (AHPIRC).