Daiane Martins Batista (*)
Durante o ano de 2020, o Brasil e o mundo ficaram chocados e amedrontados diante da crise ocasionada pela pandemia da Covid-19, sendo necessário tomar inúmeras ações emergenciais para contê-la, entre outras, o isolamento e o distanciamento social, que atingiram diretamente os ambientes escolares. Estas ações impulsionaram a implementação da Educação Remota Emergencial, a fim de tentar minimizar os impactos do fechamento das escolas. Desde então, toda a comunidade escolar tem investido significativamente para o funcionamento deste novo modelo.
As expectativas de retorno presencial para o início de 2021 foram frustradas, dando espaço para a implementação da Educação Híbrida em alguns estados, mas de uma forma geral, a maior incidência de alunos ficou concentrada na educação remota. Escola, pais, professores e estudantes se desdobraram para que o processo de aprendizagem fosse mantido, com novas estratégias e possibilidades. Por outro lado, muitos permaneceram ansiosos com a possibilidade do retorno das aulas presenciais, haja vista a necessidade de “recuperar o tempo” perdido, na opinião de muitos.
Quanto às falhas de aprendizagem nas aulas remotas, vale uma reflexão, afinal, os estudantes que tiveram a oportunidade de estudar virtualmente, adquiriram outras competências, diferentes daquelas preconizadas inicialmente, mas fundamentais para o desenvolvimento integral do estudante do século 21, como o uso das tecnologias digitais e a autonomia. Isso, sem contabilizar as competências emocionais que foram desenvolvidas também nesse período.
No cenário atual, fala-se muito na implementação de uma Educação Híbrida no cenário pós-pandemia. Entretanto, segundo pesquisas, existe uma parcela significativa de estudantes brasileiros que não tem acesso à internet. Em um levantamento realizado pela UNDIME (União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação) e pelo CONSED (Conselho Nacional de Secretários de Educação) foi identificado, que, 83% dos alunos das redes públicas vivem com renda per capita de até um salário mínimo e 79% deles têm acesso à internet. No entanto, para 46%, este acesso é apenas por celular, de uso do pai ou da mãe. Além disso, dois terços dos estudantes não têm computador em casa. Esses dados demonstram algumas das dificuldades que enfrentaremos para a implementação desse novo modelo, afinal, muitos não teriam a possibilidade de acesso, contrariando a determinação da Constituição Brasileira.
Para implementar uma educação híbrida no Brasil pós-pandêmico, serão necessários muitos investimentos estruturais, o que começa pela disponibilidade de acesso à internet, prosseguindo em construir um modelo que se aproxime do conceito original, mesmo porque, dar aulas presenciais e remotas ao mesmo tempo, dividindo-se entre falar para os estudantes em sala e para a tela, não pode ser denominada de educação híbrida.
Em um período que se cogita o retorno presencial de todos os alunos às escolas da Educação Básica, cabe um questionamento, afinal, a implementação de uma educação híbrida é a grande perspectiva para o período pós pandemia. Assim, pode-se afirmar que estamos tomando o caminho certo convocando crianças e adolescentes para frequentaram as aulas totalmente presenciais?
Considero que o caminho mais prudente seria o investimento em projetos que viabilizem a educação híbrida em todo o território nacional. De qualquer forma, o que podemos afirmar é que não devemos voltar às práticas pré-pandemia, pois tivemos muitos avanços, que precisam ser reavaliados e validados de acordo com o novo cenário proposto.
*Daiane Martins Batista, Teóloga, Pedagoga e Mestranda na área da Educação, Professora da Área de Humanidades do Centro Universitário Internacional Uninter.