Janeiro branco: parto prematuro – a importância dos pais terem acompanhamento psicológico

O mês de janeiro foi escolhido como o mês de campanha para uma maior atenção à saúde mental. Isso se iniciou em 2014, por profissionais da área da saúde, e o mês escolhido foi janeiro pois, comumente, é o mês em que as pessoas traçam metas e definem seus objetivos para o ano, levando a importante sensação de recomeço.  Dentro desse contexto, uma área da saúde mental que merece destaque é a ansiedade nos pais dos bebês prematuros, pois essa realidade costuma gerar muita aflição, pois eles passam a ter uma grande expectativa com o nascimento do bebê e possíveis consequências.

Segundo dados do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e do Ministério da Saúde, no Brasil, 11,7% de todos os partos ocorrem antes do tempo. Em 2019, foram registrados cerca de 300 mil nascimentos prematuros.

De acordo com Ana Flávia de Souza Luiz, psicóloga hospitalar do Neocenter Maternidade/ Belo Horizonte-MG, “os pais, principalmente a mãe, quando recebem a notícia que o parto acontecerá antes do planejado, ficam apreensivos, angustiados, ansiosos, com medo do que possa acontecer com o bebê”.

Conforme explica a terapeuta, “para a mãe, a experiência da gestação é única e quando ela se vê diante dessa nova realidade, que foge do planejado, desejado, surgem os sentimentos de angústia, incertezas, impotência por estar em uma situação que ela não consegue controlar e, principalmente, por medo de perder o bebê”.  Na maioria dos casos, a mãe fica se questionando, pensando o que teria feito durante a gestação que tenha ocasionado essa situação.

Além disso, há também o receio de não poder ter o contato com o bebê logo após o nascimento, não poder realizar os primeiros cuidados como sonhado, ter que ir para casa sem o filho, medo de não conseguir amamentar e até mesmo do bebê lembrar de tudo o que passou durante a internação.

Nesse sentido, destaca Ana Flávia, “a Psicologia tem um papel importante, visando reduzir os impactos emocionais propiciando um espaço de escuta, possibilitando que os pais possam expressar seus sentimentos, falando dessa vivência, suas expectativas, angústias e inseguranças, auxiliando-os no enfrentamento dos medos inerentes e na adaptação ao novo momento”.

Ela explica ainda que essa assistência depende do momento e da situação que os pais estão vivendo. “Quando a mãe está internada, normalmente os atendimentos são realizados no quarto com os pais, salvo em situações que um dos dois solicite o atendimento individual, ou é percebido essa necessidade. Na UTI Neonatal, no momento em que os pais entram, os atendimentos são realizados individualmente, um por vez. Em situações de gravidade, os atendimentos são realizados com os pais no próprio leito ou na sala de acolhimento dos pais”.

Na maioria dos casos, acrescenta, a mãe é aberta e grata ao atendimento/acompanhamento psicológico. “Ela se sente acolhida, sendo um momento dela, em que pode falar dos seus sentimentos, medos e angústias, minimizando um pouco o sofrimento de ter um bebê internado na UTI Neonatal”.

Já o pai tem uma postura de proteção com o sofrimento da mãe e, na maioria das vezes, não externaliza seus sentimentos. “É importante acolher esse pai, estimulando que ele fale dos seus sentimentos, angústias, medos e inseguranças”. Neste processo, tanto para o pai, quanto para a mãe, é importante reforçar que “eles são o apoio um do outro nesse momento”, destaca a psicóloga hospitalar.

Ana Flávia lembra também que nenhuma mãe é preparada emocionalmente para um parto prematuro, principalmente quando esse ocorre inesperadamente. “Diante dessa situação, os principais temores da mãe são que o bebê não sobreviva ou que tenha alguma complicação em decorrência da prematuridade”. Nesse caso, explica a terapeuta do Neocenter Maternidade, a mãe deve ser acolhida, realizando escuta desse momento, trabalhando a elaboração de vivenciar uma gestação/parto diferente do sonhado, idealizado, “buscando ressignificar todo o processo, facilitando a construção do vínculo entre mãe e bebê”.

Na Unidade de Internação, a Psicologia atua de acordo com a demanda, através do pedido de interconsulta. “Quando a equipe verifica essa necessidade a Psicologia é acionada”, destaca, ressaltando que “durante o processo podemos perceber boa evolução e um enfrentamento positivo durante a internação”.

Equipe médica – Segundo Ana Flávia, “saber que o seu bebê está sendo acompanhando/cuidado por uma equipe médica experiente, especialista em prematuridade, deixa os pais mais confiantes e tranquilos”.

Perguntada sobre a sua principal orientação para a mãe que teve um filho prematuro, ela afirma que durante o período de internação em uma UTI Neonatal, a mãe deve procurar ter calma, vivendo um dia de cada vez, confiando na equipe que está cuidando do seu filho.  Durante a internação a mãe vai escutar e perceber que cada bebê é único e que ele precisa de tempo para crescer e desenvolver. “E o tempo é algo que ela não consegue controlar”. É importante também a mãe não esquecer do autocuidado. Ela precisa estar bem para conseguir acompanhar e cuidar do bebê durante a internação e após a alta, observa a psicóloga.

Em tempo de pandemia, frisa, o momento tem causado mais ansiedade, deixando as gestantes mais apreensivas, com medo de ter covid e que o parto ocorra prematuramente, ou que o bebê possa ter alguma sequela ou gravidade em decorrência do vírus. “Diante dessa situação, as gestantes estão tomando mais cuidado e realizando acompanhamento psicológico”.  Nesse sentido, “um ponto que deve ser ressaltado é a importância dos pais contarem com uma boa rede de apoio nesse momento, principalmente em casos de bebês prematuros”, finaliza.

 

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