Carros elétricos: em que ponto essa tecnologia pode trazer benefícios para o planeta?

Marcelo Paranhos (*)

 

Na virada do século XX, a preocupação com meio ambiente e a agenda de governança ambiental e social nas organizações reascenderam as discussões sobre a produção de carros elétricos e a sua importância para a descarbonização do setor de transportes. Não há dúvida que os carros elétricos são menos prejudiciais ao meio ambiente do que os carros movidos a combustão. São também um importante aliado no combate ao aquecimento global.

Por outro lado, há quem conteste a ideia de que os carros elétricos são tão melhores para o meio ambiente do que os carros movidos a diesel e gasolina.  Geralmente, seus argumentos se baseiam nas alegações de que os veículos elétricos podem ser um pouco mais limpos, mais silenciosos e possuem um consumo de energia mais eficiente, mas, indiretamente, utilizam insumos responsáveis por grandes emissões de carbono na natureza. Por exemplo, a fabricação de baterias e o uso da rede de energia para a alimentação, que pode emitir tanto carbono quanto os carros movidos a combustão. Assim, a pergunta que se pode fazer é: em que ponto essa tecnologia começa realmente a trazer benefícios para o planeta e para a sociedade?

De acordo com o estudo publicado em 2021 pela Forbes, se levarmos em conta a emissão de carbono nos processos envolvidos na produção dos veículos elétricos, a partir do momento que você tira seu carro elétrico novo da concessionária, você precisaria percorrer pelo menos 21.725 quilômetros para compensar a emissão de carbono do processo produtivo, e apresentar os reais benefícios para o meio ambiente. Entretanto, as alegações relacionadas ao uso de insumos e alimentação de energia se tornam cada vez mais fracas, na medida em que novas pesquisas comparativas vão sendo publicadas.

Os desafios sobre empregabilidade é outro ponto que levanta discussões construtivas em relação a popularização dos carros elétricos. Por possuírem menos peças, os carros elétricos são mais fáceis e rápidos de serem produzidos, necessitando de menos mão de obra. Um novo estudo exposto recentemente na revista Quatro Rodas aponta que até 2030 — em um cenário mais otimista — a queda do número de empregos no setor automobilístico pode chegar a 12%. Para se ter uma ideia, a previsão já esteve em patamares de 32%. Por outro lado, vale destacar que as vagas perdidas nesse setor possivelmente devem ser substituídas por outras com mais requisitos de qualificação, como exemplo, voltados à digitalização da cadeia produtiva e Engenharia 4.0.

Recentemente um estudo publicado por George Bieker, em 2021, para o Conselho Internacional de Transporte Limpo (ICCT) fez uma comparação precisa entre a emissão de carbono dos veículos movidos a combustão e dos veículos elétricos durante todo o seu ciclo de vida na Europa. O resultado mostrou que, ao longo de sua vida útil, os carros elétricos médios em 2021 apresentaram emissões 63% a 69% menores do que os carros médios a gasolina.

O fato é que o futuro chegou e os carros elétricos já empolgam muitos de nós. O incentivo para a descarbonização do setor de transportes é um ponto importante para manter o aquecimento global abaixo da meta de 1,5°C, e os veículos elétricos de todos os tipos são a tecnologia mais importante para descarbonizar esse setor. Em novembro de 2021, o Brasil triplicou a venda de veículos eletrificados (BEVs), alcançando a marca de 30 mil carros vendidos.

A Câmara Municipal de São Paulo avançou rumo à eletromobilidade, aprovando descontos no IPVA para veículos eletrificados emplacados no município. Atualmente, São Paulo já possui um terço do mercado de eletrificados no Brasil. Outro passo importante consiste na carta da Eletromobilidade, que é um documento assinado por prefeitos e governadores assumindo uma agenda de compromissos a favor da mobilidade elétrica limpa e sustentável no país.

Por tudo isso, fica claro que o primeiro passo de um caminho sem volta já foi dado rumo à eletromobilidade. Porém, ainda há muito o que avançar nas discussões sobre como tornar o setor de transporte cada vez mais limpo e eficiente.

*Marcelo Paranhos é engenheiro mecânico, especialista em gestão de projetos, mestre em Formação Científica Educacional e Tecnológica e coordenador dos cursos de pós-graduação na área de Engenharia e Tecnologias.

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