Luís Fernando Lopes (*)
Se o ato de fazer compras ainda pode ser considerado, por alguns, uma ação prazerosa, a situação econômica do Brasil nos últimos tempos parece ter tornado essa experiência demasiadamente frustrante para a maioria dos consumidores. A crescente alta nos combustíveis, a perda do poder de compra, a falta de aumento real nos salários, o repasse da inflação, entre outros fatores, tem deixado as pessoas frustradas no momento de fazer suas compras.
Ainda que alternativas sejam apresentadas para substituir produtos, como por exemplo, a carne por ovos, a alta de preços já está impedindo para alguns, inclusive, tais substituições. O resultado é frustração, nervosismo, tristeza. A irresponsabilidade e a maldade de alguns políticos e seus asseclas provocam a diminuição da qualidade de vida para alguns, a miséria e a fome para outros. Essas são algumas consequências da corrupção generalizada que faz história em nosso país, mas que atualmente escancarou sua crueldade.
As razões expressas por alguns políticos para tentar explicar essa situação calamitosa já são bastante conhecidas pela população. A primeira, e mais utilizada desde o relato da criação no Gênesis, é colocar a culpa nos outros. Dessa forma, não é preciso assumir a própria incompetência, irresponsabilidade, ou mesmo maldade deliberada, pois, afinal, a responsabilidade pela situação caótica ocasionada é sempre imputada aos outros, ainda que diretamente provocada por decisões equivocadas, na maioria das vezes realizadas para favorecer grupos patrocinadores.
Diante dessa situação complexa na qual muitos pais e mães de família precisam escolher o que levar para casa na hora de fazer compras, quando isso ainda é possível, alguns insistem em preocupar-se apenas com os próprios privilégios, independentemente dos meios utilizados para alcançá-los. Nesse cenário complicado, Deus e a religião também são invocados para justificar ideias e atitudes completamente desumanas. Afinal, como pregam alguns, direta ou indiretamente, a riqueza, mesmo aquela adquirida por meio da corrupção, é sinal de bênção. Será?
Na contramão desses interesses, temos o povo trabalhador pagando a conta da incompetência e irresponsabilidade de seus dirigentes, muitas vezes, eleitos por meio de campanhas manipuladoras, ancoradas em memes, fake news, entre outras estratégias, ao mesmo tempo, divertidas e ofensivas, que na maioria das situações apelam para o medo e o ódio, despertando o irracional e trazendo como consequência mais ódio e alienação.
Esperança que tudo irá melhorar? Essa sempre permanece. Entretanto, para que essa esperança se concretize, o interesse e a participação direta na política do país são fundamentais. Ignorá-la ou considerá-la como coisa do demônio é apenas cair na armadilha da antipolítica, cujo objetivo é a manutenção de privilégios. Preços altos trazem como consequência a necessidade de trabalhar mais, ou seja, gastar mais tempo de vida para ganhar a mesma coisa, ou talvez menos. Os sonhos e a qualidade de vida ficarão cada vez mais distantes, pois estarão reservados aos privilegiados que viverão do trabalho barateado da maioria empobrecida. E aí, que tal se interessar mais por política?
*Luís Fernando Lopes é mestre e doutor em Educação. Professor do Programa de Pós-Graduação, Mestrado e Doutorado Profissional em Educação e Novas Tecnologias e da Escola de Educação do Centro Universitário Internacional Uninter.