O presidente e o STF

Daniel Medeiros*

 

As elites rurais do paรญs, diante das conturbaรงรตes polรญticas que nos atingiam, buscaram reforรงar o apoio ao presidente militar e, ao mesmo tempo, lembrรก-lo da importรขncia de que devia a elas a sua permanรชncia no poder. Um acordo tรกcito, no qual, por um lado, as pretensรตes cรญvico-nacionalistas do presidente eram toleradas e, por outro lado, as insurgรชncias que poderiam por em risco a manutenรงรฃo do controle econรดmico pelas elites rurais eram combatidas.

A Repรบblica, porรฉm, nรฃo se reduz apenas aos acordos de interesses. Como na Roma Antiga, o papel das instituiรงรตes รฉ tambรฉm o de equilibrar as tensรตes entre os diversos grupos que compรตem a sociedade, e uma de suas estratรฉgias รฉ dar voz aos insatisfeitos por meio de seus representantes e na forma determinada pela lei, sob pena de precisar conter manifestaรงรตes muito mais sรฉrias e imprevisรญveis.ย 

O presidente, no entanto, nรฃo dividia essa opiniรฃo republicana e via as agitaรงรตes como fonte indesculpรกvel de indisciplina e desobediรชncia. Da mesma forma, nรฃo admitia que algumas instituiรงรตes, como o Judiciรกrio, por exemplo, buscasse cumprir seu papel de รณrgรฃo de mediaรงรฃo, moderando os conflitos, ora acatando a censura ao Executivo, ora condenando-a. Para o presidente, um Judiciรกrio que nรฃo rezasse diariamente por sua cartilha autoritรกria era um inimigo a ser combatido. Por isso, desde o comeรงo, quis minar nomes independentes e indicar, para os cargos na mais alta corte, amigos e correligionรกrios, mesmo que destituรญdos de notรณrio saber jurรญdico.

A truculรชncia do presidente era tรฃo grande que, diante do agravamento do quadro institucional, muitos militares, inclusive generais, passaram a se indispor com o governo e um grupo deles chega a lanรงar um manifesto em defesa do cumprimento das disposiรงรตes constitucionais. Diante de tal afronta – que era como o presidente via qualquer enfrentamento de suas determinaรงรตes -, o chefe do Executivo manda prender os generais. O caso vai parar noย  STF, que deveria julgar o habeas corpus impetrado pelo jurista Rui Barbosa. Diante da piora da situaรงรฃo e da possibilidade de a ordem de prisรฃo ser desautorizada pelo Supremo, diz o presidente que โ€œse o Supremo Tribunal conceder o habeas corpus, eu nรฃo sei quem concederรก a ordem para os seus ministros, que dela necessitarรฃoโ€.

Esse foi o auge do conflito institucional que marcou o segundo governo republicano brasileiro, envolvendo o general-presidente Floriano Peixoto e os ministros do Supremo Tribunal Federal. Passagem lamentรกvel da vida nacional, a chamada Repรบblica da Espada terminou com o paรญs convulsionado por guerras civis e crise econรดmica e com o general inepto saindo pelas portas dos fundos do Palรกcio do Catete, sem receber o novo presidente, o civil Prudente de Morais, nem passar-lhe a faixa. Naquele momento, imaginava-se que o paรญs havia testado ao mรกximo sua capacidade de manter suas instituiรงรตes constitucionais e suportar os ataques de mandatรกrios tirรขnicos. Mal era apenas o prelรบdio de uma longa e interminรกvel sanha de truculรชncia e desfaรงatez antidemocrรกtica.ย 

*Daniel Medeiros รฉ doutor em Educaรงรฃo Histรณrica e professor no Curso Positivo.
daniemedeiros.articulista@gmail.com
@profdanielmedeiros

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