Mulheres doutoras do Tecpar são protagonistas da ciência paranaense

Mulheres doutoras do Tecpar são protagonistas da ciência paranaense03/03/2023 - 10:58
Maristela Azevedo Linhares é bióloga, trabalha no laboratório de microbiologia do Tecpar, cursa o pós-doutorado na Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR).
Foto: Arquivo/TECPAR

O Instituto de Tecnologia do Paraná (Tecpar) apoia os colaboradores para a realização de treinamentos especiais que, além do crescimento profissional, trazem novos conhecimentos para serem aplicados em produtos e serviços da empresa. E são as mulheres que mais têm se aplicado em busca dessa qualificação. Atualmente, elas representam dois terços dos colaboradores com doutorado: são 14 profissionais com esta titulação, sendo nove mulheres e cinco homens.

“Como instituto de ciência e tecnologia, apoiamos a ampliação de conhecimento dos colaboradores e o desenvolvimento de novas expertises com foco em formação continuada. No Tecpar, temos acompanhado que as mulheres têm liderado esse movimento de crescimento profissional, o que é muito gratificante”, pontuou o diretor-presidente do Tecpar, Jorge Callado.

Uma das doutoras é a bióloga Maristela Azevedo Linhares, de 45 anos, que trabalha no Laboratório de Microbiologia do Tecpar. Atualmente ela cursa o pós-doutorado na Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR).

Ela conta que o gosto pela ciência começou quando era criança e seguiu por toda sua trajetória escolar – sempre em instituições públicas. Ao concluir o ensino fundamental, foi incentivada por um professor a ingressar no antigo Centro Federal de Educação Tecnológica (CEFET). Foi nessa época, enquanto estudava para se tornar técnica em Eletrônica, que Maristela teve o primeiro contato com a biologia e se apaixonou.

Mas o amor de Maristela pela biologia não era exclusivo. O seu coração se dividia com o cuidado pelos animais, o que causou dúvidas na hora de escolher uma faculdade. “Não sabia se fazia biologia ou veterinária. Escolhi biologia e amei, faria de volta”, diz.

No curso de biologia da Universidade Federal do Paraná, Maristela conseguiu uma bolsa de iniciação científica, que manteve por três anos. Por duas ocasiões ela chegou a dar aulas, mas queria mesmo era se dedicar à pesquisa. E foi o que fez. Assim que se formou, iniciou o mestrado e quando terminou, no começo de 2005, conquistou uma vaga de bióloga no concurso público do Tecpar. Em seguida, veio o doutorado e o pós-doutorado.

No Instituto, a bióloga trabalhou com toxicologia e na microscopia de alimentos. Além de colaborar na implantação de novos ensaios, ajudou a organizar e adequar o laboratório, que, em 2012, conseguiu a primeira acreditação junto ao Inmetro, na área de microscopia. Atualmente, trabalha na microbiologia. “Essa formação contínua me trouxe a capacidade de analisar o trabalho com um olhar mais apurado. Hoje posso fazer uma avaliação mais profunda e ver o que dá para melhorar”, diz.

A pesquisa de pós-doutorado é voltada para revisões bibliográficas e meta-análise em ecotoxicologia, área que estuda o efeito de contaminantes sobre os seres vivos. O estudo tem o foco em microplásticos. “É um assunto que está em alta, porque já sabemos que os plásticos vão se degradando e podem entrar no organismo e afetar a saúde de plantas, animais e humanos. A grande importância deste tipo de estudo é auxiliar, com dados, no estabelecimento de parâmetros toleráveis destes contaminantes aos seres vivos, no mundo todo”, completa.

Maristela acredita que a área da biologia é mais aberta para mulheres, porém a necessidade de formação contínua ainda é um obstáculo para aquelas que optam por se dedicar mais à família. “Não é fácil. A gente se envolve muito com a pesquisa, é preciso muito jogo de cintura e apoio da família para dar conta de tudo. Às vezes queria estar descansando, mas estou estudando. A gente tem que dar um jeito de se dividir”, confessa.

Mesmo em meio aos compromissos, ela ainda se dedica ao trabalho voluntário no resgate de animais, sua outra paixão. “Eu resgato animais maltratados e feridos, levo para casa ou a um hotel de animais e cuido de sua saúde até que possa ser adotado. Tudo custeado por mim e, às vezes, conto com a ajuda de amigos. É uma grande alegria ver esses animais recuperados e bem adotados. Quem sabe, mais para a frente, eu ainda faça veterinária também”, afirma.

SAÚDE PÚBLICA – Outra colaboradora que em breve também terá o título de doutora é a farmacêutica e mestre em Microbiologia, Parasitologia e Patologia, Beatriz Lourenço Correia Moreira. Com a autorização da Diretoria Executiva do Tecpar, ela iniciou seu doutorado no Programa de Pós-Graduação em Biociências e Biotecnologia do Instituto Carlos Chagas (ICC/Fiocruz).

Beatriz conta que descobriu no dia a dia da faculdade o quanto gostava da pesquisa, do ambiente de laboratório e de fazer ensaios diferentes. A busca pelo aperfeiçoamento constante foi influenciada e incentivada pelo pai, que é médico e nunca deixou de estudar. “Por ele eu teria feito o mestrado logo após a faculdade, em 2011. Mas só comecei em 2017. Eu demorei para decidir porque sempre quis fazer um mestrado e um doutorado sobre algo que realmente fosse relevante para a sociedade, e não apenas para ter um título no currículo”, diz.

Em 2014, Beatriz passou no concurso público do Tecpar e começou a observar o que podia ser melhorado nos processos de trabalho. Foi ali, trabalhando, que ela definiu a base para a sua tese de Mestrado em Microbiologia, Parasitologia e Patologia, pela UFPR.

O trabalho desenvolvido por Beatriz propõe a realização de ensaio in vitro na etapa do controle interno da vacina antirrábica produzida pelo Tecpar. Pelo novo método, o controle de qualidade da vacina teria custo menor e o tempo que o produto intermediário fica em quarentena também seria reduzido. Ela conquistou a titulação e o ensaio, aprovado, já consta no plano de implantação de melhorias no controle de qualidade da vacina antirrábica do Instituto.

Agora ela inicia o projeto de doutorado, que vai estudar a resposta do sistema imunológico à vacina BCG, com foco no envelhecimento do indivíduo vacinado. “Diversos estudos apontaram que a vacina BCG tem a capacidade de modificar o sistema imune e proteger contra outras doenças. Outros artigos dizem que ela melhora o sistema imune de idosos e a sua qualidade de vida”, explica.

Casada e mãe de um menino de dois anos e meio, a farmacêutica diz que a conclusão do curso será um desafio. Segundo ela, a liberação da empresa para se dedicar ao projeto e o apoio dos colegas de trabalho foram fundamentais. “Se não tivesse esse apoio, não conseguiria conciliar todas as atividades. No mestrado foi mais fácil porque ainda não tinha filho, e contei com o apoio do meu marido”, pontua.

Beatriz ressalta que o resultado do trabalho pode contribuir, futuramente, para o desenvolvimento de novos imunobiológicos pelo próprio Tecpar. “Eu quero fazer uma diferença no mundo, fazer algo que seja útil para alguém. Desde a faculdade eu via pessoas desenvolvendo projetos que não tinham o menor sentido. Não queria isso para mim. Já consegui essa realização no mestrado e agora sigo para o doutorado”, comemora.

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