Nos homens, imunizante demonstrou uma menor probabilidade de desenvolver tumores de cabeça e pescoço
Um estudo apresentado no encontro anual da Sociedade Americana de Oncologia Clínica (Asco), que termina nesta-terça-feira (4/6) em Chicago (EUA), aponta que a vacina contra o papilomavírus humano (HPV) pode ser eficaz também em outros tipos de câncer causados pelo vírus. A pesquisa “Effects of HPV vaccination on development of HPV-related cancers: A retrospective analysis of a United States-based cohort” é um dos importantes destaques do congresso.
De acordo com Jefferson DeKlow, autor principal do estudo pela Universidade Thomas Jefferson, a pesquisa “soma um conjunto crescente de evidências que demonstram a diminuição das taxas de câncer relacionadas ao HPV entre pessoas que receberam o imunizante”.
O HPV, em quase 99% dos casos, é o principal causador do câncer do colo do útero. Contudo, novos dados mostram que, principalmente nos homens, o imunizante é eficaz na prevenção do câncer de cabeça e pescoço. Além disso, pode atuar em casos de câncer anal, pênis, vagina e vulva. Vale lembrar ainda que o estudo verifica também o impacto da vacina para o tratamento cirúrgico de tumores e lesões precursoras.
“No Brasil, a tetravalente contra o HPV, que está disponível gratuitamente para meninas e meninos de 9-14 anos, e para adultos imunossuprimidos até 45 anos, protege contra os tipos 6, 11, 16 e 18 do vírus, os principais causadores do câncer do colo do útero. É preocupante para todos ver esse tipo de tumor avançando quando sabemos que ele é altamente prevenível”, comenta Marcela Bonalumi, oncologista da Oncoclínicas&Co.
Entenda como o estudo foi realizado
Dentre um total de 5.458.987 pacientes, 949.249 deles foram vacinados contra o HPV. Destes, 55% são mulheres, 51% brancos, 22% negros/afro-americanos, 5% asiáticos, 0,5% índios americanos ou nativos do Alasca, 0,4% nativos do Havaí ou de outras ilhas do Pacífico e 21% de outra raça ou etnia desconhecida.
Os achados no estudo mostraram que 760.540 homens vacinados contra o HPV tiveram uma menor probabilidade de desenvolver tumores relacionados ao vírus, principalmente de cabeça e pescoço. Já as mulheres imunizadas, representando 945.999, apresentaram uma menor chance de desenvolver câncer cervical e tumores relacionados ao HPV no geral.
Contudo, a pesquisa mostra que, no caso das mulheres, a probabilidade de ter câncer de cabeça e pescoço ou câncer vulvar e vaginal não são significativamente diferentes daquelas que não receberam o imunizante.
Próximos passos
Dando sequência à pesquisa, as análises contarão ainda com a participação de pessoas com mais de 39 anos, que receberam a vacina contra o HPV. É esperado que sejam observados resultados baseados na faixa etária no momento da vacinação, além do tempo em que o paciente recebeu a vacina até o desenvolvimento do câncer e ainda quais grupos possuem uma menor probabilidade de receberem o imunizante contra o vírus.
O cenário do HPV no Brasil
Há exatos dez anos, a vacinação contra o HPV entrou para o calendário oficial da população brasileira, contudo, as taxas de imunização têm caído cada vez mais no país, o que vem levantando preocupações em todas as esferas da saúde e da sociedade brasileira. De acordo com dados recolhidos pelo Grupo Brasileiro de Tumores Ginecológicos (EVA) no DataSUS, do Ministério da Saúde, houve queda de 72% da aplicação em meninas e 52% em meninos, nos períodos de 2015 a 2021 e 2018 a 2021, respectivamente.
A taxa de infecção pelo HPV atinge 54,4% das mulheres que já iniciaram a vida sexual e 41,6% dos homens. Os resultados são da pesquisa nacional sobre o tema, encomendada pelo Ministério da Saúde e feita por meio do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do SUS (Proadi-SUS). Apesar disso, em 2022, entre as meninas, a primeira e a segunda dose tiveram, respectivamente, 75,91% e 57,44% de adesão. Entre os garotos, os valores são ainda menores: 52,26% na primeira aplicação e 36,59% na segunda.
“A imunização pode prevenir também o câncer de vulva, ânus e vagina nas mulheres e de pênis nos homens. Por isso, o ideal é que esse cuidado ocorra antes do início da vida sexual”, complementa a oncologista da Oncoclínicas, que apresentará o estudo “Efficacy of niraparib in patients with advanced ovarian cancer: A meta-analysis of randomized controlled trials” na Asco 2024.