sábado, 18 janeiro 2025
19.5 C
Curitiba

Ainda sobre o PIB e o nosso futuro

Ainda sobre o PIB e o nosso futuro

Patrícia Tendolini Oliveira, economista, mestre em Administração e coordenadora do curso de Relações Internacionais do UNICURITIBA.


No começo de março o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgou o resultado do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro em 2020: uma queda de 4,1%, o pior resultado da série histórica iniciada em 1996 e que retira o país da lista de dez maiores economias do mundo.


A recuperação de 3,2% no último trimestre do ano, que poderia ser uma boa notícia frente à forte queda do primeiro semestre de 2020, acaba sendo apenas um respiro para um início de 2021 nada promissor. Inúmeros fatores podem ser elencados para justificar o pessimismo em relação aos próximos meses: o maior intervencionismo do presidente Bolsonaro na economia neste início de ano; um recrudescimento da inflação e maior risco de inadimplência; e claro, a piora da pandemia associada à extrema lentidão no processo de vacinação.


As recentes intervenções do presidente na economia desagradam os mercados, pioram as expectativas em relação ao futuro e contribuem ainda mais para a alta do dólar. Essa alta, já observada nos últimos meses e que pode se intensificar em 2021, pressiona os preços e abre espaço para uma antecipação do aumento na taxa de juros, o que pode contribuir para o aumento da inadimplência, em especial para a população de baixa renda. Portanto, essa população que já sofre com a perda dos principais estímulos dados pelo governo no ano passado e com uma inflação localizada especialmente no setor de alimentos, será novamente afetada pelos juros e consequentemente, pela inadimplência.


O resultado também acentua a tendência de queda no PIB per capita (calculado dividindo o PIB do país pela quantidade de habitantes), que já se manifestava ao longo da última década (com queda de 4,4% em 2015 e 4,1% em 2016). Em 2020 o recuo foi de 4,8%, pior queda desde 1981 no início da famosa década perdida.


O crescimento de 2% do setor agropecuário em 2020 é um alento nesse cenário desastroso e está diretamente relacionado à recuperação da economia mundial e à alta do dólar. Entretanto, a análise setorial do PIB nos mostra uma forte queda no setor de serviços (de 4,5% na atividade que corresponde à maior parcela do PIB e é o maior empregador da economia) e na indústria (3,5%).


O otimismo em relação à agropecuária, que se revela hoje como atividade fundamental para a sustentação da economia pode revelar uma preocupação, em especial para o setor industrial. Olhando para o passado, para uma década de desindustrialização e perda de competitividade da indústria brasileira, o que esperar desse futuro?


O momento em que vivemos, de pandemia (e o atual lockdown vem mostrar que estamos longe de seu fim), alto desemprego e possível recessão, significará para nossa economia destruição de capital humano, com perda de habilidade dos trabalhadores alvejados pelo longo desemprego e muitas vezes afetados em sua saúde mental, e um aumento da informalidade.


A saída da Ford do Brasil é o símbolo de uma era de desindustrialização, de falta de investimento e inovação, e perda de competitividade. Mas… o que esperar de um país que por vezes, insiste em duvidar da ciência?


Destaque da Semana

Bush, banda de rock que se apresenta no Lollapalooza Brasil, anuncia show em Curitiba

Celebrando mais de trinta anos de carreira, o grupo...

Trajeto de trem Curitiba-Morretes supera roteiros ferroviários da Suíça, Itália e Japão

Curitiba consolida sua posição como destaque do turismo. Reconhecida...

Receita esclarece que fiscalização do Pix não afetará autônomos

Nada mudará também para quem compartilha cartão de crédito Wellton...

MEI: Quais boletos pagar e como evitar golpes

Boletos sempre chegam. Mas, para quem é Microempreendedor Individual...

Artigos Relacionados

Destaque do Editor

Popular Categories

Mais artigos do autor