Será que o surto de gripe pode acontecer em Curitiba?

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Especialista reforça a importância de se vacinar, mesmo agora, e também de procurar manter distanciamento, máscara e demais cuidados, pois esses protocolos não são exclusivos da pandemia contra a COVID-19 e sim contra todos os vírus de transmissão respiratória

A vacinação contra a COVID-19 avança em todo o país e continua chamando a atenção da população para seu calendário. Porém, um surto de gripe no Rio de Janeiro nesta primavera e quase verão é algo muito atípico para a época, revelando que a procura por outra vacinação ficou abaixo do esperado: a imunização contra a gripe comum (Influenza). E há mais estados em alerta.

A adesão na Campanha Nacional de Vacinação Contra a Gripe, realizada entre abril e julho de 2021, caiu na comparação com os anos anteriores. Em 2019 e 2020 a taxa nacional passou de 90% do público-alvo, mas neste ano a meta nacional que era novamente de 90% ficou em 70%. Segundo o Ministério da Saúde, até o dia 02 de setembro o Paraná atingiu cerca de 65,1% da cobertura vacinal contra a gripe (entre população geral e grupos prioritários). E olha que o estado chegou a liberar para toda a população a vacinação, mas os estoques não acabaram. A Prefeitura de Curitiba divulgou que tinha um saldo remanescente de 167 mil doses de vacina contra a gripe disponível em 25 de novembro para toda a população nas unidades de saúde.

Ao longo da campanha, não foi possível aplicar as duas vacinas juntas, era preciso esperar um intervalo de 14 dias. Apenas no fim de setembro uma nota técnica do Ministério da Saúde autorizou que aplicação das duas vacinas no mesmo dia. Isso deve facilitar um aumento nas imunizações, mas será que o surto de gripe pode acontecer em Curitiba? Esse aumento de brasileiros gripados é por causa da queda na imunização?

Segundo o médico infectologista Jaime Rocha (diretor de Prevenção e Promoção à Saúde da Unimed Curitiba e responsável pela Unimed Laboratório), existe risco em qualquer região do país, pois os vírus de transmissão respiratória como Influenza e COVID têm como característica a rápida transmissão. “A baixa cobertura vacinal como a que vemos agora e o comportamento humano flexibilizado com a questão das máscaras e de higiene facilitam a disseminação. Estamos fora da época de circulação habitual do Influenza, mas como temos a circulação global e pessoas viajando entre hemisférios, não é incomum a reintrodução do vírus”.

O infectologista destaca que esse de agora é o vírus H3N2, não coberto pela vacina de 2021. No cenário que estamos de baixa cobertura vacinal, há um terreno propício para o vírus voltar a se desenvolver como estamos vendo. Jaime Rocha explica ainda que, todo ano, a vacina da gripe tem 3 ou 4 cepas cobertas e, todo ano, sofre pequenas mudanças conforme o vírus que mais tem chance de circular. “Especificamente esta cepa estará contida na próxima vacina, na atual disponível existem outras cepas semelhantes que podem conferir alguma proteção, mas não são exatamente esta que está circulando”, esclarece.

Essa situação reforça a importância de manter o calendário vacinal em dia – não pensando apenas na COVID-19 – e o papel de toda imunização: fechar as portas para o vírus e evitar internações e mortes. “Infelizmente essa baixa cobertura está sendo vista não somente com a gripe, mas também com outras várias vacinas como Sarampo, HPV, Caxumba, Rubéola, Varicela, Hepatite, Meningites e outras mais. As pessoas tendem a focar somente em um problema por vez, como o problema agudo da COVID, e acabam esquecendo que temos outras doenças controladas graças à boa cobertura vacinal. Não podemos abrir mão de uma vacina por causa da outra. Ter sido vacinado contra COVID não te protege de outras, todas as doenças merecem a mesma atenção e manter a alta taxa de cobertura vacinal”, ressalta.

O que fazer? – A orientação do infectologista é se vacinar, mesmo agora, e também procurar manter ainda distanciamento, máscara e demais cuidados, pois esses protocolos não são exclusivos da pandemia contra a COVID-19 e sim contra todos os vírus de transmissão respiratória. Mas um ponto muito importante é que médicos não têm como separar, clinicamente, o que é gripe e o que é COVID. “A pessoa com sintomas respiratórios tem que ter testada e isolada para poder tomar a conduta correta. Até porque, para Influenza, se o diagnóstico é feito nas primeiras 48h, existem antivirais específicos. Já para COVID ainda não temos antivirais para uso ambulatorial – até podemos ter em breve porque há estudos. Então não tem como separar um e outro sem exames, pois os dois podem causar um quadro parecido de síndrome gripal: febril, agudo e com sintomas respiratórios. Também o tempo de isolamento dos pacientes, em cada caso é diferente”, conclui.

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