sexta-feira, 15 novembro 2024
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Vende-se Gamificação, mas esquece do ensino

Por Renan da Cruz Padilha Soares (*)

Espalham-se publicidades de instituições de ensino privadas no país com slogans de campanha que destacam o fato daquela escola trabalhar com um sistema de ensino gamificado. Essa afirmativa é, normalmente, acompanhada da breve explicação de que se trata de uma metodologia inovadora “onde seu filho aprende brincando”. Até aqui, nenhum problema com esse tipo de publicidade e acredito que a gamificação é capaz de ensinar divertindo. O problema é quando tudo isso não passa de uma peça de publicidade.

 

Os estudos sobre gamificação não surgiram no campo da educação, e sim no mundo coorporativo. Pesquisadores perceberam que estes jogos possuem diversos elementos capazes de motivar uma pessoa a gastar boa parte de seu tempo jogando. Então, passa-se a pensar em como incorporar esses elementos em atividades que não são, propriamente, um jogo, mas que precisam de engajamento. Assim, esses elementos dos jogos são incorporados para fidelizar o consumidor, ou aumentar a produtividade de uma empresa. É a gamificação.

 

Quando a educação se apropria desses estudos, faz-se necessária uma ressignificação completa da gamificação. A professora em sala de aula não quer aumentar seus lucros, mas sim garantir uma aprendizagem significativa e que a escola cumpra sua função social. E a gamificação é uma metodologia que possibilita que esses objetivos sejam alcançados, motivando os estudantes, utilizando a ludicidade e estabelecendo uma linguagem mais próxima do seu cotidiano.

 

Assim, a gamificação torna-se uma metodologia chamativa para atrair jovens interessados em uma forma de aprender que dialogue melhor com seu cotidiano, impulsionando os pais a se atraírem pela propaganda de um ensino gamificado. O mal está quando o marketing se sobressai em relação ao pedagógico. A gamificação não pode ser pensada como um chamariz de novos clientes e imposta a educadoras e educadores como uma exigência para cumprir uma peça de propaganda.

 

O caminho é inverso. A gamificação deve ser uma estratégia debatida e incorporada pelos educadores em espaços de diálogo democrático com a comunidade escolar. Caso se entenda que a metodologia é uma importante ferramenta para alcançar os objetivos pedagógicos, é preciso traçar um rigoroso planejamento que deve incorporar a formação desses educadores para a aplicação correta de uma estratégia gamificada. Estando tudo pronto para essa aplicação, o setor de propaganda e marketing dessa instituição pode (e deve) noticiar esse como um diferencial do ensino ofertado.

 

Gamificação não trata de colocar alguns joguinhos durante a aula, nem mesmo atribuir pura e simplesmente pontos para premiar ou punir comportamentos dentro da escola. A gamificação é uma metodologia complexa e seus estudos no campo da educação estão em constante debate e evolução. Sua adoção por uma instituição de ensino, ou por educadores isoladamente, deve estar submetida unicamente à lógica do processo de ensino-aprendizagem. Caso contrário, o que veremos são ótimas peças de propaganda e aplicações práticas que são incapazes de alcançar os objetivos que devem permear uma instituição de ensino.

 

 

*Renan da Cruz Padilha Soares é graduado em História pela Universidade Federal Fluminense e mestre em Práticas na Educação Básica pelo Colégio Pedro II. É docente da área de Linguagens e Sociedade, curso de História, no Centro Universitário Internacional Uninter.

 

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